30 de Janeiro - Dia do Quadrinho Nacional
Não vou falar da Turma da Mônica Jovem, não, embora seja bem legal. Falo do universo tradicional mesmo. Aí está a palavra: tradicional! Acho que os leitores nostálgicos são aqueles muito observadores, ou seja, são fãs de quadrinhos pra valer! O leitor comum e ocasional não percebe as transformações.
Bom, eu mesmo já tinha reparado, mas estava lendo no site salivagasta.org o texto (bastante desbocado) de Cauê Madeira “Cansei da Turma da Mônica” e concordo com ele em vários pontos, embora discorde de suas conclusões.
Bom, as transformações a que nos referimos (eu e ele) são referentes à qualidade dos roteiros, e pra mim até dos desenhos que, não sei se por um aspecto nostálgico, considero inferiores aos antigos, da época da Editora Abril. Isso também pode se dar devido à repetição dos temas, coisa impossível de não ocorrer, pois os personagens se mantém com 7 anos há décadas fazendo as mesmas molecagens e mantendo suas características. Talvez até o final dos anos 90 o problema fosse mesmo falta de criatividade (ver o P.S.) ou liberdade criativa, pois o Mauricio controla mesmo seus personagens e padroniza a coisa. Tudo bem, a empresa é dele mesmo!
Concordo que gostaria de conhecer os nomes dos criadores das histórias, que diferente de outros gibis, não são creditados. Até porque nas histórias atuais têm aparecido bastante uma diferença de estilos e alguns desenhistas e roteiristas muito loucos têm feito historinhas muito engraçadas, com um toque nonsense e sarcástico, com um toque de humor pros fãs mais velhos e caretas impagáveis dos personagens! Citações a absurdos como o “Pônei cor-de-marmelo” sonhado pelo Cascão são um exemplo.
Como é o nome dele mesmo? Hehe brincadeira... é o Xaveco! |
Para os professores, tem histórias ótimas para trabalhar a metalinguagem, pois o que tem aparecido de personagens secundários reclamando por mais espaço nas histórias, não está no gibi. Ou melhor, está sim! Exemplo: A Denise (que agora ganhou traço permanente) e o Xaveco (sempre zoado pela condição de secundário) e sua irmã Xabéu (agora filhos de pais divorciados). E tem os seminovos como Marina, Nimbus e Do Contra.
Outra que tomou forma foi a Carminha Frufru. E tem os eternos Reinaldinho, Fabinho, Tonhão da rua de cima e os heróis da turma: Capitão Pitoco e ursinho Bilu. Mas estou saindo do assunto, né?
Incomoda um pouco o aspecto do “politicamente correto”, onde acho que exageram. Nas histórias atuais, os meninos não escrevem mais nos muros os desaforos para a Mônica, apenas colam papéis. O Cascão não brinca mais no lixão nem toma banho de lama. E o Chico Bento não pode mais caçar e nem segurar sua espingarda de sal (essa até passa).
Mas se formos considerar essas coisas, o Cebolinha e os outros não vão poder mais xingar a Mônica: baixinha, dentuça, gorducha. E o preconceito como fica?
Também questiono a implicância com a Mônica, que chega a ser complexada com o peso (e é do mesmo tamanho dos outros personagens). Não estamos colaborando com uma geração de leitores anoréxicos?
Que bobagem! É que na verdade é pura birra, provocação, brincadeira.
Ainda do texto citado: "Outro dia fui ler uma historinha em que o Cascão constrói um barco e enquanto os outros meninos traziam a madeira necessária o Cebolinha avisava: “é madeira de reflorestamento”. QUEM QUER SABER? F***-se se é madeira de reflorestamento ou se derrubaram onze árvores recém-brotadas no bairro. Não importa. É ficção, é molecagem."
Quando essas frases comprometidas começam a influenciar na qualidade da história, concordo, é um saco! Mas acho que falo isso pela falta de paciência que adquiri depois de leitor formado e adulto, hehe.
Imagino se os gibis fossem publicados na Coreia do Norte...
Nos termos de cidadania também a criação de personagens chega a ser forçada. Dorinha, a cega, Luca, o cadeirante, que protagonizam histórias ruins de doer. Só vale a intenção mesmo de inclusão e conscientização. Só queria que valorizassem mais o Humberto que já dá campo pra muita história boa e não é aproveitado. De centenas de gibis que tenho, li umas 5 ou 6 proveitosas. E apenas 1 ou 2 que falava da linguagem de sinais.
Luca |
Como disse o rapaz no site, o problema é que isso parece criar uma obrigação de agradar a cada elemento da sociedade: “Quero ver um personagem soropositivo, quero ver um personagem adotado, quero ver uma criança com câncer, quero ver um viciado em crack, quero ver um que é molestado pelo tio.”
Exageros à parte, como professor acredito que as tentavivas têm sido válidas de atingir um público mais humano e que aceite as diferenças, só tem que caprichar um pouco mais nos roteiros em si e deixar a vida nos quadrinhos ser mais “natural”.
Humberto |
Apesar de tudo, continuo adorando a Turma da Mônica.
E minha filha não me deixa mais ler. Eu pego um gibi e lá vem ela: “Pai, conta uma tólia pa mim?” – ainda bem!
P.S.: Mas já li muita história fraca (pra dizer o mínimo), como a do Cascão que termina no nada falando da bola de capotão, sem final, sem piada, sem sentido. Meu amigo Daniel Sanes lembra bem.