Assisti
a uma palestra sobre transporte público ferroviário e
sustentabilidade no dia 10/08. Na abertura do evento, chamado "II Ação de Formação de Massa Crítica", e promovido pelo GETrans-Furg, uma educadora lembrou as
palavras do presidente do Uruguai José Mujica na Rio+20, sobre a
sociedade de consumo e como o mundo é regido pelas leis de mercado.
Considerado por alguns o discurso da década. Um chefe de Estado a
quem chamam de pobre, pois tem um estilo de vida humilde e, hoje em
dia considerado alternativo.
As
palavras do presidente e do palestrante me fizeram refletir sobre
nossos problemas do dia a dia, e sobre como as neuroses, desafios e
desilusões são geradas por causa desse modo de vida consumista.
Lembro do engenheiro Afonso Carneiro instigando o pensamento dos
universitários da Furg para questionarem o que buscamos para nossa
satisfação pessoal. Será que a felicidade é obtida na compra de
um carro?
Desde
pequenos somos levados a assistir programas sobre automóveis,
corridas, comerciais apelativos (redundância, claro), filmes com
audiovisual hipnótico, tudo para que possamos internalizar a ideia
de que precisamos nos render a essas máquinas rápidas, poluidoras e
que esgotam pouco a pouco os recursos do planeta, o espaço nas
cidades, causam estresse nos grandes centros, nos isolam dos
semelhantes, causam inveja nos desfavorecidos, ocasionam acidentes,
carregam os jovens afoitos à tragédia e acabam, no final das
contas, pelo menos a meu ver, atrapalhando muito mais do que
favorendo a sociedade como um todo, e principalmente a evolução do
espírito humano.
Como
disse o senhor Afonso, não sou contra as pessoas comprarem um
automóvel, adquirir patrimônio e etc, mas não podemos recuperar o
conceito original do carro “de passeio”? Precisam se deslocar
dois míseros quarteirões no seu automóvel? Caminhar e fazer uso de
nossos corpos em suas funções básicas é tão doloroso? Ou estamos
perdendo algo importante com o progresso baseado na economia de
mercado?
Concordo
com Mujica e também questiono: viemos a este planeta competir, e
construir, e trabalhar, e ganhar dinheiro, e adquirir bens? Ou
vivemos para sermos felizes? O conceito de globalização não
deveria andar de mãos dadas com o conceito de fraternidade?
Tecnologia
sem humanidade só serve para nos tornarmos, aos poucos, frios como
as máquinas a quem dedicamos mais atenção do que ao nosso
semelhante.
Bem, e o que esse texto filosófico tem a ver com Histórias em Quadrinhos? Vou fazer uma conexão com meu personagem favorito, o Surfista Prateado. Com texto de Stan Lee, a história de sua origem mostra o atormentado Norrin Radd em seu planeta natal criticando a tecnologia que seduziu seu povo e o tornou indolente. Já em 1968 Stan já tinha noção de que o progresso sem reflexão pode ser um problema para a condição humana em busca de realização pessoal.
No quadro abaixo, em inglês, o personagem fala que até mesmo o ancestral ato de caminhar não é mais utilizado, pois os cinturões de mobilidade levavam as pessoas de um lugar a outro, de modo semelhante ao mostrado no filme de animação Wall-E. E lembram de como era a Terra no filme? Uma paisagem de lixo descartável. Mas diferente da ficção, não temos naves para nos salvar. Apenas esperança de que as pessoas se conscientizem.
Norrin Radd (Surfista Prateado) questionando o modo de vida em seu planeta. |
Terra no futuro: uma lata de lixo? |
Bravo! Cassius tu escreve melhor que muitos jornalistas do Diário Popular, bem melhor!
ResponderExcluirObrigado meu amigo. Pena que os poucos que leem nem mesmo comentam!
ExcluirÓtimo texto, como sempre! Vc é fera primo :)
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