Muito triste, recebo a notícia da morte de um de meus
poucos ídolos, Stan Lee, criador dos heróis Marvel. Com 95 anos, Stanley Martin
Lieber fez sucesso com seus personagens heroicos e humanizados ao mesmo tempo.
De
origem pobre, trabalhou desde cedo pra ajudar a sustentar a família, começou a
escrever com cerca de 19 anos, e logo assumiu várias funções dentro da editora
de quadrinhos Timely, que mais tarde se chamaria Marvel Comics. Escrevia
histórias em prosa para o Capitão América. Alistou-se para a 2ª Guerra Mundial,
e designado como roteirista, escrevia e desenhava panfletos sobre doenças
sexualmente transmissíveis para os soldados.
Mais tarde, ao retornar do front, quando seu chefe pediu
para escrever sobre uma equipe de heróis, para concorrer com a Liga da Justiça
da concorrente DC Comics, ele criou o Quarteto Fantástico, diferente por não
usarem máscara, serem celebridades e principalmente, serem uma família de
aventureiros. Baseado no Tocha Humana dos anos 30, no Homem Invisível da
literatura, e outros.
Em seguida, buscando mitos nórdicos, criou o Poderoso
Thor, que com o tempo desenvolveu um padrão de linguagem mais rebuscado,
shakespeariano.
Com o Homem-Aranha, ele falou sobre bulliyng, sobre os
dramas adolescentes e a responsabilidade de um órfão estudioso que tinha que
cuidar da tia idosa que o criou e fazia sacrifícios para defender sua
vizinhança de malfeitores, mesmo que sua vida pessoal não lhe desse muitas
alegrias.
Um monstro temido de bom coração, baseado nos clássicos
"O Médico e o Monstro" e "Frankenstein" - O Incrível Hulk!
Todos até aqui transformados pela radiação, uma paranoia mundial da Guerra
Fria.
Um playboy milionário, com uma armadura tecnológica, mas
com problemas cardíacos para a época da Guerra do Vietnã? Homem de Ferro!
Heróis contra o preconceito, só porque nasceram
diferentes: O X-Men, representando os conflitos raciais dos ano 1960,
alimentados pelos proeminentes Martin Luther King e Malcom X. Era a luta das
minorias representada nos gibis!
Demolidor, um herói cego criado por Stan Lee, mostrando a
realidade dos portadores de deficiência e não tratando-os como incapazes, o que
agradou o público, que respondia enviando cartas comentando as histórias.
Os primeiros super-heróis negros, como o Pantera Negra,
rei de uma nação africana nunca colonizada. E outros como o Falcão e Luke Cage, que viviam em bairros violentos,
foram criados por colegas durante sua administração da empresa. Histórias que
falavam sobre o perigo das drogas e o uso de armas de fogo também eram
presentes nessa época.
Como se não bastasse escrever dezenas de histórias por
mês, os personagens ainda interagiam entre um gibi e outro, num universo
integrado e organizado.
Stan Lee ouvia a opinião dos leitores e os tratava com
carinho e camaradagem, como se todos fossem membros de um clube. Em
entrevistas, sempre foi atencioso e alegre, fazendo piadas o tempo todo, mesmo
com suas criações.
Foi assumindo cargos maiores na editora, até que seu nome
fosse sinônimo de Marvel, juntamente com seus maiores desenhistas e demais
roteiristas, como Jack Kirby, Steve Ditko, John Buscema, Gene Colan, John
Romita, Joe Simon, Don Heck, Sal Buscema, Roy Thomas e muitos outros.
Assumidamente um falso intelectual, caprichava ao máximo na
linguagem para que suas histórias, além de dramáticas, trouxessem ideias mirabolantes,
com termos científicos e palavras rebuscadas, para que o leitor ampliassem seu
vocabulário, tanto buscando no dicionário ou aprendendo o sentido pelo
contexto.
Escreveu alguns gibis especiais, como O Surfista
Prateado, colocando toda sua ideologia da não-violência, da preservação da
natureza, da busca pela paz e da elevação do espírito humano, de um sentimento
de fraternidade, captando a atmosfera da era hippie, em 1968. O Surfista era
seu preferido, pois dava voz a seus pensamentos, dizia Lee.
E justamente o citado Surfista Prateado que me fez virar
fã de carteirinha da Marvel, e principalmente de Stan Lee.
Fazendo pontas em filmes e séries, criando novos personagens,
participando de conferências e dando entrevistas bem-humoradas, Stan se manteve
ativo até o fim, quando já não enxergava direito e com problemas de saúde,
perdeu sua esposa de muitos anos, Joan, e foi noticiado na mídia que estava
sofrendo abusos de sua filha e empresário, em brigas e forçando-o a participar
de eventos quando sua debilidade já não permitia mais.
A marca de Stan Lee? O sorriso, a simpatia, o bom-humor e
as mensagens humanas em suas melhores histórias, clássicos inesquecíveis. Quem
acompanhava sua carreira, lia seus textos e assistia suas entrevistas, com
certeza o considerava um membro da família, assim como ele dizia que éramos
todos heróis da família Marvel.
Adeus, amado e admirado Stan Lee, e muito obrigado por
ajudar na criação de todo um Universo. Excelsior!
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