E também temos Ratus, na verdade Edward Wheelan, que foi vítima de experiências do nazista Barão Zemo que o transformaram num monstro inumano e canibal de mente frágil e instável.
Neste “singelo” gibi podemos ver Harry Osborn ser atormentado pelo fantasma do pai, Norman, que o humilha como sempre fez em sua juventude, influenciando-o a ser novamente o Duende Verde, culpando o Homem-Aranha por todos os problemas em sua vida. Harry quase bate no filho em meio ao surto psicótico, e acaba abandonando a família em busca de vingança.
O Homem-Aranha enfrenta o trauma de sua pseudo-morte e dos decorrentes
sentimentos injustificados de culpa pela morte de seus pais, comum em
órfãos, como explica a Dra. Ashley Kafka.
Já o personagem Ratus vai se revelando aos poucos na história, através de quadrinhos quase expressionistas que representam gravações em vídeo feitas em sua cela no instituto psiquiátrico. Em sua relação com a Doutora, ele relembra a “coisa ruim”, que na verdade era o abuso sexual que sofria do próprio pai, um Juiz de Direito de posição social elevada.
Além deste fato surpreendente nesta história em quadrinhos, ficamos sabendo que a mãe de Ratus sabia o que acontecia e nada fazia, ele culpa a mãe por não tê-lo protegido. O vilão tenta matar o pai, mas não consegue, pois seus sentimentos familiares são confusos. Depois do ataque frustrado, o Juiz fica assistindo a vídeos antigos onde brincava com seu filho ainda pequeno, e se desespera chorando com remorso - são páginas emocionantes. Ratus, com tratamento, começa a assumir novamente, mesmo que brevemente, a forma humana, mas teria que percorrer um longo caminho para lidar com seus traumas.
Todos os personagens lidam com a questão da família. Todos passam por
sentimentos conflitantes. Harry não sabe se Peter é o melhor amigo ou o
pior inimigo. Peter não sabe se quer espancar e punir Ratus ou ajudá-lo.
Ratus não sabe se ama ou odeia seus pais.
Esta edição se revela uma obra séria e reveladora da condição humana de
fragilidade e impotência diante de questões que vão desde a complicada
relação com os pais até coisas inerentes ao ser humano como a violência e
instintos incontroláveis. Mostra que existem coisas boas e ruins dentro de todos nós, e também que não devemos julgar pela aparência e sem conhecer os fatos
.
Destaque para os desenhos de Sal Buscema, que de maneira excepcional
demonstram emoções fortes como surpresa, medo, alívio e fúria, e ,
claro, parabéns ao argumentista J.M. De Matteis pela ousadia. O tema não
chega a ser uma novidade em histórias em quadrinhos, mas foi tratado
com dignidade, sem apelação, sem deixar de lado a aventura, e
acrescentando mais maturidade ao personagem mais famoso da Marvel.
Pena que esse tipo de história não seja apenas ficção.
Pena que esse tipo de história não seja apenas ficção.
"Nem toda violência deixa cicatrizes."
Eu cheguei certa vez a me desfazer desta revista, mas logo acabei comprando outra cópia.
Nunca li essa história, acho que seria interessante se vc pudesse disponibilizar o scan da edição...
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