Se você é um grande fã de quadrinhos, deve ter ouvido falar do livro "Sedução do Inocente", que causou polêmica nos anos 1950 nos Estados Unidos ao dizer (e convencer a maioria) que os gibis faziam mal aos jovens. As pessoas promoviam queima de gibis nas ruas, foi uma onde de histeria na época. Pois vejam o que foi descoberto:
Fredric Wertham manipulou dados do livro
Por Sérgio Codespoti
Num artigo publicado no Information & Culture: A Journal of History
Tilley revela que Wertham modificou os dados obtidos em seus estudos
para escrever o livro, como, por exemplo, a idade das crianças, a
omissão de fatores mitigantes e a distorção de citações.
Em 1954, Wertham foi chamado para depor sobre delinquência juvenil,
na subcomissão do senado dos Estados Unidos, justamente em virtude dos
"méritos" do livro Sedução do Inocente. O resultado direto da investigação foi a criação do Comic Code Authority, o código de censura dos quadrinhos e a falência da E.C. Comics, na época a mais relevante editora de quadrinhos dos EUA, especializada em histórias policiais e de terror.
A pesquisa de Tilley foi iniciada com um propósito diferente. Quando
os arquivos pessoais do psiquiatra - que faleceu em 1981 -, preservados
na Biblioteca do Congresso, foram colocados à
disposição do público, em 2010, ela buscava saber se Wertham havia
trocado correspondência com bibliotecas e bibliotecários naquele
período. O que ela descobriu, entretanto, foi a manipulação sistemática
das entrevistas e de outros dados usados no preparo do livro.
Em Sedução do Inocente, Wertham diz que recebeu um grande
volume de cartas, enviadas por bibliotecários, reclamando dos
quadrinhos. Em sua pesquisa, Tilley encontrou apenas uma dúzia - se
tantas - de cartas. Esse é apenas um dos exageros cometidos pelo médico.
Ele tinha uma clínica de baixo custo, no Harlem, em Nova York, na qual
diz ter atendido milhares de jovens problemáticos, mas na realidade esse
número está na casa das centenas.
Segundo Tilley, o livro possui péssima documentação. Não existem
citações diretas ou bibliografia. Não há meios exatos de saber quais as
bases dos fatos relatados ou das pessoas mencionadas. Quando tentou
corroborar as informações publicadas com as entrevistas com os
pacientes, ela encontrou dezenas de distorções, omissões e até mesmo
invenções por parte de Wertham.
Segundo Wertham, o garoto Edward, de sete anos, passou a ter pesadelos após ler a revista The Blue Bettle (título do personagem original, da Fox Comics, que vendeu os direitos do mesmo para Charlton Comics em meados da década de 1950, muito antes de o Besouro Azul fazer parte da DC Comics), sobre um herói que se transformava em um besouro, e sugere que a história é "Kafka para crianças".
Tilley encontrou as anotações sobre Edward, na qual o médico escreveu
que o menino não se lembrava do conteúdo dos pesadelos. Além disso, o
Besouro Azul não se transforma literalmente num inseto.
Sobre Batman e Robin, Wertham diz que eles representam os desejos de
dois homossexuais vivendo juntos, atribuindo a citação a um jovem de 13
anos, em liberdade temporária, recebendo tratamento psiquiátrico por ter
abusado sexualmente de outro menino, que se imaginava como o "Robin", e
que queria ter relações com o "Batman".
A pesquisa de Tilley revelou que o garoto preferia ler Superman, Crime Does Not Pay
(famosa revista de HQs policiais) e histórias de guerra, muito mais do
que Batman. Além disso, ele omitiu o fato de que o garoto havia sido
atacado sexualmente anteriormente.
Em alguns casos, Wertham menciona jovens que ele não tratou, como a
garota Dorothy, de 13 anos, que era paciente da Dra. Hilde Mosse.
A verdade é que Wertham modificou palavras, datas, citações e muitos
outros fatos, embora algumas citações tenham sido transcritas na
íntegra, para comprovar as suas teorias.
Tilley afirma que existem lições sobre o caso Wertham relativas ao
funcionamento do que chamou de pânico cultural de massa. Ela publicará
sua pesquisa numa edição futura do Journal of Research on Libraries and Young Adults.
Ainda sobre o psiquiatra, Tilley diz que, embora ele tenha distorcido
os fatos para suportar suas teorias, Wertham não deve ser transformado
num grande vilão, pois existem muitas outras evidências de que o médico
tinha boas intenções quanto aos jovens e seu empenho em atividades de
assistência social.
Wertham não foi o causador da histeria contra os quadrinhos da década de 1950, mas é um dos mais notórios.
Para encerrar, a pesquisadora afirma que uma pesquisa feita em 1953,
um ano antes da famigerada subcomissão do senado sobre delinquência
juvenil, apontava que 90% das crianças e 80% dos adolescentes nos
Estados Unidos liam quadrinhos. Os números mostram que a proporção entre
as HQs produzidas e a população era de 6,5 revistas em quadrinhos
vendidas por habitante.
fonte: Universo HQ
Já odiava este livro infeliz antes de ler esta notícia da fraude, agora então...
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