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26 de jul. de 2021

Repostando: Graphic Novels:

 Um compilado deste blog no que se refere às leituras comentadas ao longo dos anos.


Três Sombras - ótima HQ de Ciryl Pedrosa, com tema sobrenatural e ao mesmo tempo muito humano, com um camponês fazendo tudo que pode para salvar o filho de um destino indesejável. 




Palestina - Uma Nação Ocupada - Jornalismo em quadrinhos é o que faz o autor, Joe Sacco. Há tempos vi esta edição na casa de um amigo e só agora consegui ler. É informativo, é tocante, é uma visão pessoal e política, mas também humana e realista, onde o autor relata suas observações e entrevistas, sua convivência com Judeus e Palestinos em Israel nos anos 90. Tem momentos eu incomodam, pois saber que retratam a realidade de um povo. Impossível ficar sem reação ao ler esta história em quadrinhos, pois há momentos em que nos identificamos com o autor, enquanto "ocidentais". Sem hipocrisia, sem uma visão romântica, e ainda assim subjetiva. Recomendo.



Palestina - Na Faixa de Gaza: Mais um magnífico trabalho de Joe Sacco, com seu jornalismo em quadrinhos. É um soco na cara do leitor saber que seres humanos são submetidos a um estado de medo, de insegurança, a uma prisão a céu aberto, sofrendo perdas e tragédias como os palestinos nos campos de refugiados em Israel (assim como outros em outros lugares do mundo).  Infelizmente, não é ficção, é a história contemporânea nua e crua, retratada através de relatos captados pelo autor e transformados numa história em quadrinhos deprimente. Faz-nos pensar em como não olhamos pro outro como deveríamos, tanto em nosso micro-universo de relações pessoais como no cenário mundial, com interesses políticos e econômicos de países que fingem se unir pra melhorar o mundo, mas que não fazem nada para resolver uma questão que sim, é complicada, envolve religião, guerras, racismo, política e mágoas de gerações inteiras, mas que mesmo assim, acredito, deveria chegar ao fim de algum modo. Enquanto isso, pessoas são humilhadas e vivem quase sem esperança. Ler sobre como os judeus argumentam tranquilamente achando que venceram e pronto, acabou, quando o autor conversa com as mulheres em Tel-Aviv, mostra que é fácil olhar apenas pro próprio umbigo. A leitura desse material deveria ser base em aulas do Ensino Médio, para que várias questões, sejam  filosóficas ou sociológicas, sejam pensadas por essa geração alienada por vídeos de gatinhos youtubers. Um pouco de realidade faz crescer, amadurece e humaniza.





"Santô e Os Pais da Aviação", do cartunista Spacca: Fruto de um longo estudo sobre os primórdios da aviação. O autor, brasileiro, pensou no início em fazer uma obra nacionalista, exaltando Santos Dumont, mas pesquisou e viu que na época vários homens, cientistas e adoradores do balonismo trocavam ideias e as usavam para aprimorar seus equipamentos. E nisso entravam americanos, alemães, e vários outros. A história é bem humorada, traz diversas curiosidades, os traços são bem dinâmicos e divertidos e cumprem bem sua função de ilustrar a vida de Dumont e retratar sua época e o ambiente em que vivia, na Paris na virada do século XIX para o XX. O nome Santô refere-se à pronuncia do sobrenome Santos em francês.





O Diário de Anne Frank em Quadrinhos - de Ari Folman e David Polonski, que ao serem contatados pela instituição fundada pelo pai de Anne Frank, tiveram que resumir a obra para a versão em quadrinhos. Mesmo eu não tendo lido o livro, me emocionei com a história da menina de 13 anos que viveu isolada em um apartamento escondido, juntamente com mais 7 pessoas por alguns anos na Holanda, fugindo dos nazistas e delatores durante holocausto da Segunda Guerra Mundial. Extraordinariamente talentosa para escrever, e com o pensamento muito evoluído para sua época, ela manifesta suas esperanças, descobertas, anseios e tristezas no diário. Até que um dia não escreve mais. Pra quem não conhece a história, vale a pena, mas infelizmente o destino cruel que a família sofreu deixará o leitor inconsolável, assim como outras histórias desse momento histórico vergonhoso da humanidade.






A Força da Vida, de Will Eisner. Lançado em 2007 pela Devir Livraria. Will Eisner sempre surpreende com reflexões, questionamentos e um relato histórico de suas vivências. A história abarca vários personagens de uma comunidade judaica em Nova Iorque, lutando para sobreviver após a crise causada pela quebra da bolsa de valores em 1929. Uma obra atual, em tempos em que o desemprego e os empreendedores surgem buscando alternativas para se manter. Aí está a "Força" do título: a resiliência. Personagens falhos, humanos, cheios de sonhos e decepções, no trabalho, no amor, na religião, em seus empreendimentos. Alguns crescem, outros se endividam com a máfia italiana, outros fogem do horror do nazismo na Europa. Os sindicatos pressionam os empresários com violência, e muitos jovens se aliam ao movimento comunista e socialista.  A história gira em torno de Jacob, carpinteiro que busca um sentido para viver. Seu trabalho e seu casamento já não preenchem seus dias e quer retomar um amor antigo. Mas muitas reviravoltas acontecem em mais uma bela graphic novel do mestre Eisner.








Em Retalhos, uma história autobiográfica, Craig Thompson (roteiro e arte) é o personagem central em uma família cristã, que teve a infância marcada por uma forte opressão religiosa.  Um relato sensível da convivência com seus pais e o irmão Phil, com quem dividia a mesma cama e o gosto pelo desenho, em uma casa humilde na cidade de Wisconsin, um lugar muito gelado. Em meio ao conservadorismo religioso e a solidão causada pelo bullying sofrido na escola, Craig é atravessado pela primeira paixão. Sua “culpa católica” impedia até mesmo o desenrolar de sua relação com Raina, que conheceu num acampamento de férias.  Mas ao passar duas semanas na casa dela, os dois se tornam muito próximos. Raina era o porto seguro da família, cuidando dos irmãos com necessidades especiais e da sobrinha, enquanto os pais sofrem uma separação. Os pensamentos de Craig, suas emoções, medos, dúvidas e sensações são retratadas em seus traços. São quase 600 páginas de uma confissão de fases e fatos marcantes para sua vida. Tão marcantes que fez questão de contar para o mundo nessa bela graphic novel. (Por Cássius Rodrigues e Mariane Vargas).







O Paraíso de Zahra - Amir e Khalil, os autores, se escondem sob nomes fictícios para se proteger. Lançada em 2012 no Brasil, esta história em quadrinhos retrata um momento histórico muito difícil no Irã, após as polêmicas eleições de 2009. O Estado Islâmico reprimia o povo, sequestrava, matava, ameaçava e torturava quem se opunha ao governo. Democracia deturpada, perseguição religiosa e difamatória, que atingiu milhares de pessoas. Na HQ, que é uma ficção baseada em diversos casos reais, Zahra e seu filho tentam encontrar Mehdi, desaparecido após participar de uma passeata de protesto. Incansáveis, enfrentam as instituições, líderes religiosos e capangas do regime autoritário. Mas contam também com amigos e pessoas que vão conhecendo ao longo da jornada, alguns na mesma situação, e outros que simpatizam com sua causa. Segredos vão sendo desvendados ao descobrir o destino de seu querido Mehdi, sua luta ganha mais força. Uma obra de cortar o coração, mas que também ilustra a luta e o sofrimento de um povo gentil contra a opressão. Poesia e citações de poetas do oriente, como Omar Khayan permeiam a edição, assim como expressões e referências da cultura do país em questão. A edição tem glossário e vários textos extras, um inclusive mostrando como o escritor Paulo Coelho é adorado no oriente e se envolveu em questões políticas. E um triste adendo de várias páginas contendo o nome de quase 17 mil nomes, o Memorial Omid, referente às pessoas executadas no período da República Islâmica no Irã. 







Habibi (212) - Difícil de resumir a obra de 672 páginas de Craig Thompson. Dodola é vendida pelo pai ainda menina. Seu marido é assassinado, ela é vendida como escrava, adota um bebê negro (Zam) e se prostitui no deserto para sustentar a si e ao menino e cria fama de "bruxa do deserto". Sórdido? Pois tem muito mais. Ela conta histórias baseadas no Corão e na Bíblia (1001 noites também é inspiração do autor), fala da escrita árabe e sua mística enquanto ensina o menino. Depois é raptada e vendida a um sultão. Zam, sozinho no mundo, junta-se a um grupo de eunucos, e pede para ser castrado, numa busca espiritual. Transformado em uma "menina", aceita sacrificar seu corpo se prostituindo, mas acaba servindo o sultão, trabalhando no palácio como homem novamente. Dodola, depois de ser aprisionada por muito tempo e passar todo tipo de sofrimento,  tem um filho com o sultão, que renega por muito tempo e depois acaba morrendo. Zam quer resgatá-la, quer encontrar sua irmã, sua mãe, sua vida, a única pessoa que lhe deu amor. Dodola só pensa em Zam, que viveu sob seus cuidados. O reencontro, a privação, o carinho, a descoberta do que cada um fez. A superação das dificuldades. O gesto final de amor. "O mais importante no sexo é a respiração". São tantas passagens marcantes nessa obra. Inúmeros personagens, alguns repulsivos, outros encantadores. A arte é incrível, psicodélica e clássica. Uma obra visceral, que se passa num oriente meio atemporal, onde escravos e indústria convivem. Psicologia, sexualidade, meio ambiente, tudo está lá em menor ou maior proporção. Nota 10! Recomendo!
















O Escultor, de Scott McCloud - conhecido por seus trabalhos teóricos sobre a estrutura e linguagem dos quadrinhos, o autor escreve e desenha esta graphic novel de quase 500 páginas, com a história de David Smith, jovem escultor apaixonado por sua arte, mas sem grande êxito na profissão. Ao mesmo tempo em que lida com infortúnios da sua vida pessoal, como a morte trágica  de familiares, vê diante de si uma última saída, que surge de maneira inusitada: a figura do simpático tio avô que já está morto, (na verdade uma manifestação de uma força mística) propondo um pacto que transformará a sua trajetória artística mas que terá um preço alto a ser pago. No caminho, ele encontra Meg, uma garota simpática, amável, e com suas próprias complexidades, que o acolhe em um momento difícil. É uma história longa e de ritmo lento, mas com diversos momentos emocionantes. Entre fatos banais e outros fantásticos, destaca-se a composição das páginas quando David repassa sua vida toda mentalmente. A cor azul utilizada na edição combina com o tom melancólico dessa bonita e sensível história sobre a importância da arte e do amor. (Lido e escrito com Mariane Vargas)








O Soldador Subaquático - Acho que criei muita expectativa nesta graphic novel de Jeff Lemire. Longe de ser ruim, é uma história humana e dramática, com uma arte competente, mas... nada demais. Jack passa por um fenônemo que não se define como sobrenatural ou apenas um processo psicológico que o faz refletir sobre fatos do passado e seu comportamento no presente, tudo causado por sua relação com o pai, que se reflete em como lida com sua família.. O material e formato da edição são excelentes.






Grande Sertão: Veredas - Adaptação da obra de João Guimarães Rosa, com roteiro de Eloar Guazzelli Filho e desenhos de Rodrigo. Uma graphic novel magnífica. Quando se lê algo assim, fica-se imaginando a grandiosidade da obra original, que confesso, não li (e que é cultuada internacionalmente). Ao começar a conhecer a nomenclatura dos personagens, flashes de uma memória antiga me vieram à mente e fui pra Internet confirmar, Diadorim era mesmo interpretado por Bruna Lombardi na minissérie que passou na Globo quando eu tinha 5 anos de idade. E Riobaldo era o Tony Ramos. Fora isso, a complexidade do cenário e da relação de personagens é cativante, e mostra uma realidade grosseira, de morte, de princípios sobre vida e morte, e ousadamente, mostra um amor impossível, na dúvida de Riobaldo sobre o que sente, sobre sua sexualidade posta em xeque, e da cruel situação de Diadorim. Mesmo em 1956, lá estava a mulher guerreira que hoje se destaca na realidade e em filmes e quadrinhos. Vale a pena conhecer esta obra, com ótimos desenhos e que usa da linguagem mais próxima possível do texto original, um pouco difícil de ler no início, e também um desafio para compreender por sua coloquialidade regional e também deslocada no tempo, cheia de hipérbatos e anástrofes (inversão de termos de uma oração). Isso é bom, porque estimula nosso cérebro de leitor a construir os significados. Recomendo demais!









Macunaíma em Quadrinhos - Por Angelo Abu e Dan X, com uma arte toda estilosa com traços fortes e cartunescos e belas cores, transpondo para o " a língua gibi" (como eles mesmos dizem) a obra de Mário de Andrade, lançada em 1926. A saga do herói sem nenhum caráter é uma miscelânea de mitos, lendas, frases feitas e superstições da cultura brasileira, formada por vários povos, etnias e costumes. A obra faz crítica, humor, e brinca com o conceito de "formação do povo brasileiro", tentado em períodos românticos através de obras como Iracema, de José de Alencar, durante o Romantismo. Acontecem absurdos (negro virar branco), fatos fantasiosos (criaturas que se transformam), religiosidade (orixás, rituais, espíritos e deuses) e no meio de tudo isso, muita sacanagem, pois o erotismo, a sem-vergonhice (o herói da narrativa "brinca" com toda mulher que encontra), a preguiça e os subterfúgios (finge ser o irmão no telefone para aprontar alguma) também são inerentes ao brasileiro. E ainda a menção à existência de duas línguas: o brasileiro falado e o português escrito. E é claro, nota-se o uso constante da linguagem indígena, com influência no dia a dia até hoje, principalmente na região de São Paulo (canindé, pacaembu, e ainda igarapé, aipim). Só lendo pra conhecer e entender bem. 







Missa do Galo e Outros Contos de Machado de Assis - adaptação de Francisco Vilachã e Adão de Lima Jr., com quatro histórias, trazendo também dois poemas, uma crônica e um trecho de "Memórias Póstumas de Brás Cubas". Não é uma edição empolgante, mesmo tendo desenhos competentes. Os contos selecionados não são nada que fique marcado na memória de um leitor acidental. Eu mesmo conhecia o primeiro de nome, mas não lembro de ter lido. O texto fiel do autor original é um pouco verborrágico para a atualidade e para o formato HQ, em minha humilde opinião (longe de mim contestar a obra original). "Missa do Galo" é um conto de fatos um pouco banais, em sua leitura superficial: um jovem conversando com uma familiar mais velha, nas poucas horas em que ela pôde ser ela mesma. Claro que em análise, mostra a vida de aparências da sociedade naquele contexto (tema atual). "Conto de escola" traz mais tensão, com meninos durante uma aula de um professor severo, um deles filho do mestre, que paga ao protagonista para que lhe explique o conteúdo, quando são dedurados por outro colega e sofrem as consequências. "O espelho" é o mais maçante, embora com um tom de mistério, vem a ser o mais decepcionante da edição, com uma teoria meio confusa e sem graça sobre a alma humana. E por fim, "Umas Férias", que tem um clímax emocionante e triste, embora traga uma sentença genial finalizando a história. Crianças criam expectativas sobre um dia especial, sem saber que era um dia trágico. Resumindo, são duas histórias bem boas de ler, uma sem graça e outra chata. Mas o saldo é com certeza positivo, para se conhecer o estilo de escrita de Machado, algumas histórias bem humanas e uma arte bem legal.




Graphic Novel 24 - Dead End: na Velocidade dos Anos Solitários - Não gostei muito dessa edição, que embora tenha uma arte perfeita, quase fotogênica, com os rostos de famosos de Hollywood como Humphrey Bogart, Lauren Bacall e outros, tem uma história difícil de se desenrolar, com diálogos muito marcados para serem frases de efeito como o texto de Casablanca, tentando criar bordões, que acabam dando a impressão de falas desconexas. Mas como a intenção era criar o clima de desesperança dos anos 1930-1940, acredito eu, o artista Seyer conseguiu êxito até demais, pois a história chega a ser deprimente, com personagens decadentes, mafiosos impotentes sexualmente e viciados em morfina, outro dispostos  a morrer, a mulher sem escrúpulos que se deita com  todos, ex-presidiários  manipulados por chefões, matadores de aluguel que urinam e espancam os que são extorquidos e assim por diante. Tudo na atmosfera "noir" mencionada no texto introdutório da revista que, confesso, quase nada entendi, de tantas referências. É talvez uma obra de arte, mas que não sou capaz de apreciar como devia.






Última Tentação - quando vi que esta edição estava sendo RElançada, foi estranho, porque eu nem mesmo conhecia esta história em quadrinhos. Conhecia sim o álbum "The Last Temptation", do roqueiro Alice Cooper. Inclusive adoro a arte do encarte e o clipe de "It's Me", com o mesmo apelo visual. Então, curioso, acabei comprando esta edição, que mesmo com desconto, achei o preço salgado (editora Mythos castigou), mesmo porque uma HQ não tão famosa não precisava de cerca de 50 páginas com o roteiro do autor Neil Gaiman (só este nome já indicava que provavelmente a edição era interessante). A história? Sim, bem legal, lembrou a minissérie Psycho Circus, do Kiss, aliás, é tudo que Psycho Circus gostaria de ser, acredito. Um ser sobrenatural (na figura de Alice Cooper) tenta um menino para adentrar o elenco de um teatro de horror, prometendo vida eterna. Não chega a mostrar um terror apelativo, é tudo bem comedido, sendo uma leitura agradável e muito bem escrita. Nota 8!




Aya de  Yopougon, de Marguerite Abouet. A história é biográfica e traz a vida de adolescentes na Costa do Marfim nos anos 70. Uma dica para o colegas professores e qualquer um que se interesse por uma história humana e de qualidade. O material da edição é de primeira também. Curiosidade: durante a leitura conhecemos um pouco da manipulação da mídia. Sendo a cerveja da Costa do marfim o orgulho nacional e numa época em que a informação vinha toda da televisão, a personagem conta como era o comercial de cerveja, vendida como um elixir fortificante que faz bem à saúde.Vale a pena ler, é interessante!




Daytripper - história em quadrinhos produzida pelos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, e um sucesso internacional, conta a história, ou melhor, as histórias de vida de um escritor de obituários, e várias versões de sua vida, mas sem uma narrativa linear nem em ordem cronológica. Tratando de como a vida pode ser interrompida a qualquer momento, às vezes de maneira chocante e violenta, faz o leitor refletir sobre alguns aspectos como família, infância, tragédias, amizades, jornadas e sonhos. Não é uma edição pra ser lida toda de uma vez. Acredito que seja melhor se deliciar com uma ou duas histórias (são dez no total) por dia, para prolongar o prazer e as vidas do personagem Brás, mas não espere demais, pois nunca se sabe se você vai terminar o livro que está lendo. 





O Fantasma de Anya - adolescente de origem russa vivendo desde pequena nos Estados Unidos, Anya um dia cai em um buraco e encontra um fantasma. A alma da menina Emily conta uma história dramática e segue Anya até sua casa, querendo fazer amizade e aos poucos revelando mais de si mesma. Emily ajuda Anya em suas atividades diárias e em seus dramas pessoais, mas até onde Anya deve deixar sua amiga fantasmagórica se intrometer? Ótima HQ, com momentos engraçados, tristes e outros assustadores.




Bulldogma - Sinopse: "Deisy Mantovani é uma ilustradora de embalagens e livros infantis que está fazendo sua primeira história em quadrinhos, entre um freelancer e outro. Junto com o seu buldogue francês Lino, ela acaba de se mudar para um apartamento num bairro com suspeitas de abduções alienígenas, por causa do solo rico em silício, o que reflete densa energia do campo magnético da Terra, atraindo as naves de outros mundos. Enquanto trava a sua busca frenética por trabalho, festas e romances complicados, garimpa filmes de ficção científica, vídeos do YouTube sobre ufologia e questionamentos filosóficos sobre a realidade."Tá, essa é a sinopse, mas é um quadrinho muito louco sobre metalinguagem, que na verdade é propositadamente meio sem pé nem cabeça e cheio de referências links para sites, músicas e blogs onde outras histórias dos personagens se desenvolvem. A ideia é não entender direito mesmo, e sim viajar com a personagem... 



Duas vidas conta a história de dois irmãos completamente diferentes. Enquanto Luc viaja pelo mundo se aventurando como médico voluntário que ajuda pessoas carentes  através de uma ONG, Baudouin é frustrado em seu trabalho em uma grande empresa, pois seu sonho era viver de música. Eles se encontram quando Luc tira uma folga e retorna a Paris e tenta estimular o irmão a sair de casa e curtir com amigos. A rotina tranquila de Baudouin, porém, se transforma diante do diagnóstico de uma doença terminal e com as investidas e a filosofia do seu irmão que vai tentar impulsionar uma mudança em sua vida pacata, para que realize seus sonhos e aproveite seus últimos dias. Muitos momentos emocionantes esperam o leitor, quando Baudouin resolve sair de sua zona de conforto (solitária e desconfortável). Fabien Toulmé consegue contar uma bela história sobre sonhos, amor fraterno e liberdade das amarras mentais e sociais. (Por Cássius Rodrigues e Mariane Vargas).












Peixe Peludo - Edição de 2010. Rafael Moralez e Rodrigo Bueno nos levam por um fluxo de pensamento, com as mais aleatórias depreciações de instituições sociais, objetos da cultura, e devaneios do Peixe Peludo, enquanto ele atravessa a cidade em seu dia a dia melancólico em uma grande cidade. Em um mundo de animais antropomorfizados,  o Peixe não se encaixa em nada, com poucas interações sociais, fumando, bebendo, filosofando sobre ovos de codorna no balcão do bar e tocando trompete na rua junto a mendigos. Odeia tudo e todos e constata,  sem muita certeza: Bom mesmo é isto. Bom mesmo é aquilo. Um pouco como todos nós, embora bem deprê, Peixe Peludo é um ótima leitura, com uma narrativa que soa poética e engraçada em vários momentos. E a capa da edição está um capricho, com letras em alto relevo com pelinhos, assim como o próprio personagem.






NÃO ERA VOCÊ QUE EU ESPERAVA - Muito boa esta obra autobiográfica em quadrinhos, onde o autor francês Julien Toulmé, casado com uma brasileira, conta a experiência de ter uma filha com síndrome de down. História tocante e educativa, com uma visão humana que nos aproxima de uma realidade que às vezes ignoramos. O autor também faz algumas críticas a médicos relapsos, ao sistema de saúde do Brasil e da Europa, mas também aponta qualidades do povo e da cultura brasileira, que diferente de outros países que usam termos "frios" como "deficiente", utiliza palavras mais otimistas como "criança especial" por exemplo. Recomendo.




 O Perfura NeveFantástico quadrinho francês! Num futuro distópico, a Terra congela e o que restou da humanidade vive num trem que percorre o planeta. Lá dentro, a estrutura social se repete, castas, religião, pobres e ricos, privilégios e sacrfícios,... uma visão desesperançosa que revela, infelizmente, nossa natureza! Deu origem a filme e série.




Simplesmente magnífica a  história em quadrinhos "Maus", de Art Spielgelman, que retrata o que seu pai, Vladek, juntamente com sua família, passou durante a perseguição dos judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. O cartunista pesquisou durante 12 anos e gravou entrevistas com o pai, resultando numa obra biográfica, que narra também suas dúvidas quanto à publicação da própria obra e seu sofrimento, bem como o conflito de sua geração, que não entendia o horror por que seus pais haviam passado. O autor preferiu retratar os personagens como animais, assim os judeus são ratos, os poloneses são porcos, os alemães gatos e os franceses sapos. Mas isso não impede que eles se enojem em lugares infestados por ratos (o que deixa eles mais humanos apesar de sua retratação). Assim como o filme "O Pianista", trata-se da história de um sobrevivente, mas se destaca pela riqueza de detalhes no relato de Vladek, bem como a esperteza e habilidade de negociante que salvou sua vida. Ele é um herói humano, com suas falhas (mais evidentes na velhice, por conta do que sofreu e da maneira que foi criado - ele era racista com os negros por exemplo, apesar do que passou). Maus é quadrinhos, biografia, jornalismo, romance, humor, drama e história. Não é à toa que ganhou diversos prêmios, inclusive um Pulitzer. Eis uma obra indispensável nas leituras de fãs de quadrinhos e de quem quer conhecer o capítulo mais horrendo da história da humanidade.








Lampião... Era O Cavalo do Tempo Atrás da Besta da Vida. - Uma edição premiada em preto e branco. Autor assina como Klévisson. Conta as últimas horas do cangaceiro Lampião, quando seu bando foi cercado e fuzilado. A arte é muito boa, o texto expressa o coloquialismo dos personagens. O álbum tem um acabamento de luxo e formato gigante, com páginas de informações sobre o momento histórico e ainda um adendo com referências de objetos e instrumentos usados no sertão na época, para desenhistas, e historiadores. Só não gostei do fato de a HQ em si ser muito curta, além de ter pouco diálogo.




Sepé Tiaraju – lançado pela Câmara de Deputados, foi distribuída para as escolas contando a história do herói indígena que defendeu seu povo na luta contra os colonizadores. Embora tenha estudado sobre o vulto histórico guarani, eu nem lembrava quem ele era. As missões até hoje são consideradas uma sociedade perfeita que mesclava crenças e costumes de diferentes povos de forma pacífica, pois os missionários convertiam os índios em cristãos, mas os deixavam viver com seus costumes, “um triunfo da humanidade”. Depois de firmados e construírem suas cidades (chamadas Reduções), foram liderados por Sepé na revolta quando soldados quiseram, por ordem da Coroa Espanhola, que eles se mudassem para outra região. Eles não viam sentido em obedecer cegamente alguém que não conheciam e resistiram até onde podiam, mas acabaram perdendo no final.  Muito humana e interessante esta obra, com acabamento de luxo. Embora desenhos e cores não sejam de um padrão internacional, a edição é muito boa. O lançamento foi iniciativa do Deputado Federal Marco Maia. Roteiro de Luiz Henrique Gatto e arte de Plínio Quartin.



O Nome do Jogo, de Will Eisner - Fala do casamento por interesse em várias gerações de uma família judia no começo do século passado, com conflitos, traições, abusos, ambição, muito drama e tudo o mais. Primeiro trabalho de Eisner que conheci. Bem interessante!






 Castelo de Areia - nas palavras de meu irmão Julian: "Não tinha conhecimento sobre do que se tratava, fiquei surpreso com o decorrer da história e do que essa HQ faz com nossa mente ao terminá-la. Fiquei vários minutos folheando e olhando os desenhos tentando compreender o que não tinha explicação. Nessa HQ nos deparamos com as analogias entre um castelo de areia e o conceito de vida/morte, e é ai que nossa mente trava, ficamos com aquela sensação entristecedora de que tudo está passando muito rápido em nossas vidas." Li  e achei muito interessante, também. Com a iminência do fim, cada um procura viver ao máximo e valorizar quem tem por perto... não temos muita escolha, não é verdade?




Dois Irmãos - a saga de Omar e Yaqub e sua família de origem libanesa. Mãe obsessiva, filho bastardo, uma briga  que mudou as vidas dos gêmeos e um caminho de tragédias e histórias de amor. Baseado no livro de Milton Hatoun, na versão em quadrinhos pelo (dois) irmãos Bá e Moon. Uma bela narrativa em preto e branco, com traços suaves que conseguem passar as emoções ao leitor. Um retrato histórico e humano de Manaus. Ótima pedida!






Eu mato Gigantes - li de uma vez só esta bela história, recomendada por meu irmão Julian. Realmente vale a pena conhecer Bárbara e sua imaginação fértil, originada por um drama pessoal.




Nada a Perder, de Jeff Lemire (autor de HQ’s da Marvel, como O Velho Logan) – O Drama da família do canadense Derek Ouelette, um jogador de Hóquei fracassado por conta de sua tendência violenta, consequência da influência de seu pai. Cheio de acusações por agressão (nem sempre culpa dele, que era provocado), ainda  tem que lidar com o reaparecimento de sua irmã, em estado de vício de drogas, grávida e perseguida por um namorado abusivo. Uma história forte, com um final bem artístico e humano. Fala de redenção e superação, de amizades e sonhos desfeitos. A cor azul predominante reforça o clima triste, mesmo que não se saiba que “blue” (azul em inglês) signifique também “triste”. O traço é competente e passa bem a emoção dos personagens. Uma bela obra.









Persépolis - tardiamente conhecendo esta premiada HQ, posso dizer que esse material deveria ser leitura obrigatória nas escolas. Eu, que fui criado nos anos 80 ouvindo falar da guerra Irã/Iraque, não fazia ideia de quem eram os iranianos, de como era seu país antes ou depois da guerra, nem de sua cultura, de sua história. Marjane Satrapi nos mostra seu mundo de maneira envolvente, divertida e dramática. Cheio de referências à cultura pop da época, conta sua vida que começou num país relativamente livre, embora em crise, e sempre estimulada intelectualmente por seus pais, viu o país ser tomado por um governo religioso e rigoroso nas regras de conduta, e muitas liberdades foram tomadas. Crescendo nesse ambiente, sua vida segue até ser enviada a outro país, onde viria a confrontar outros dilemas na adolescência, que passou vivendo sozinha. Essa história em quadrinhos é bem longa, mas envolve tanto que o leitor só para quando o cansaço físico exige, pois a curiosidade aumenta a cada capitulo. Nota 10! Recomendo muito! História contemporânea de maneira prazerosa e contado por quem viveu na pele.








Pílulas Azuis - premiada HQ de Frederik Peeters, contando sua história ao conhecer a a namorada e depois esposa Cati, portadora do HIV, e com seu filho na mesma condição. Apesar dos receios e dúvidas, o casal prevalece e constrói uma vida juntos, enfrentando o preconceito e conhecendo mais as maneiras de conviver com a família e a sociedade. A história é muito informativa, muito interessante para revelar mitos e verdades sobre a AIDS, inclusive os avanços no tratamento. Emoções a mil, mentes confusas e coração firme! Uma história de se admirar!





Talco de Vidro - o brasileiro Marcello Quintanilha conta a história de uma mulher de classe média alta, dentista, que trabalha, mas sempre teve tudo nas mãos. Os pais lhe deram o consultório novinho ao se formar e o marido médico lhe provê praticamente tudo. Com dois filhos estudando em escola particular, ela tem seu carro, que ganhou de presente e uma casa na praia. Ainda assim, começa a ver o vazio de sua vida e ficar incomodada com a prima, não formada, com pai bêbado, morando em bairro pobre, divorciada e sem filhos. Mas extremamente bonita e simpática, parecendo feliz. Ela vai atrás das razões e isso lhe deixa inquieta. Esse incômodo flui e cresce beirando a obsessão, e aos poucos a personagem principal entra num espiral de mudanças na vida, causadas por essa instabilidade emocional que o leitor acompanha com um narrador em terceira pessoa que está na mente de Rosângela. Ela faz coisas que nunca pensaria em fazer, rumo a um colapso. Trabalho genial, que capta o leitor, e com um final diferente de tudo que se espera.






Tangênciasde Miguelanxo Prado (março de 2021) - Esta edição traz a obra lançada originalmente nos anos 1990 pelo artista espanhol, e traz oito histórias curtas, que mostram momentos em que alguns casais se despedem. Com elementos eróticos, cores e traços realistas e sutis, as histórias são sobre finais de relacionamentos. Casais que se reencontram, relações baseadas em aparências, romances tórridos e secretos, todos marcados pela melancolia do último encontro. Mais que uma HQ sobre encerramentos, Tangências é sobre amor. (Lido e resenhado com Mariane Vargas)







Fun Home - Alison Bechdel, nesta graphic novel autobiográfica, conta com detalhes boa parte de sua infância e juventude, focando na difícil relação com seu pai, distante da família, um professor obcecado por decorar e reformar o  casarão antigo onde moram e também dono de uma funerária que ficava dentro da própria casa.  O título faz referência ao empreendimento familiar, não significando que o lar deles era necessariamente engraçado. Alison nos entrega uma obra densa, sofrida e cheia de lembranças, nem todas bonitas, sobre a descoberta de sua sexualidade, e dos segredos do pai, morto num acidente quando ela já estava na faculdade. A obra é permeada de referências literárias e filosóficas, pois Bruce lia  (em especial Fitzgerald) com a mesma obsessão que reformava a casa. A paixão pelos livros inspirou Alison e o hábito da leitura tornou-se uma das poucas coisas que conectava os dois. Foi em uma dessas leituras que ela encontrou a palavra que nomeava sensações e sentimentos que ela ainda não tinha definido. A palavra era "lésbica". As memórias de Alison fazem uma leitura de si mesma e da vida de seu pai. (Lido com Mariane Vargas)









Miss Davis - ótima história em quadrinhos com roteiro de Sybille Titeux De La Croix e desenhada por Amazing Ameziane. Com cores e gráficos diferenciados, colagens, splash pages e capítulos em estilos diversos, conta a história da ativista Angela Davis, suas viagens, amigos, dramas, fuga, prisão e julgamento.















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